Nelson Rodrigues é o dramaturgo da alma brasileira. Não aquele Brasil da propaganda de banco, mas o Brasil do incômodo, do desejo escondido, da moral que prega uma coisa e faz outra. É um cronista do subúrbio, do adultério, da paixão proibida, da hipocrisia vestida de virtude. Escreve com sangue, suor e vergonha alheia. Diz o que ninguém tem coragem de dizer, e ainda ri disso tudo, com um cigarro na mão e uma sentença pronta.
É conservador, mas não moralista. Denuncia o moralismo com a mesma intensidade com que despreza a ingenuidade progressista. Para ele, todo ser humano é um personagem trágico prestes a cair do próprio salto.
Escreve como quem espia por trás da cortina de uma família perfeita, revelando segredos que só o travesseiro sabe. Suas frases cortam como navalha e seus personagens gritam o que você sente, mas finge que não.
Nelson é o cronista da verdade incômoda. Seu ofício é arrancar a máscara da sociedade brasileira com uma caneta e um deboche. Ele não escreve para agradar, escreve para cutucar, e cutuca fundo. Nas entrelinhas das suas frases vive um Brasil nu, neurótico, católico de dia e devasso à noite, feito de vizinhos fofoqueiros, tias recalcadas e maridos canalhas.
Seu palco é a sala de estar da classe média hipócrita, onde se esconde tudo que é mais humano: o desejo, o ciúme, o recalque, a covardia. Cada personagem que cria carrega uma verdade feia que o leitor reconhece, mas nunca admite.
Ele é o profeta do subúrbio, o observador que vê tragédia onde os outros veem rotina. Acha que o brasileiro é um personagem trágico que sonha com o paraíso, mas vive atolado na própria culpa. Para ele, todo lar tem um incesto imaginado, uma traição silenciada, um segredo enterrado entre a cristaleira e a estante de livros não lidos.
Escreve com a alma suja de realidade, sem firula nem filtro. Não idealiza o amor, disseca. Não exalta a virtude, denuncia a pose. Suas frases são como um tapa na cara seguido de um gole de uísque barato.
Conservador, sim, mas de um conservadorismo lúcido, desconfiado das modas e das verdades fáceis. Tem horror ao politicamente correto e desprezo por quem acha que vai mudar o mundo com hashtag. Para ele, toda revolução começa com um desejo proibido e termina num armário trancado.
No universo de Nelson, a verdade não é bonita, é necessária. E, se for para ser dita, que seja com escândalo.
Nelson era profundamente anticomunista, não no sentido técnico ou acadêmico, mas visceral, cultural, emocional. Ele via o comunismo como uma ameaça à liberdade individual, à criação artística, à religião, à família e até ao humor. Era conservador, católico e defensor ferrenho da propriedade privada e da individualidade. Não simpatizava com a esquerda nem com os "intelectuais progressistas", que ele chamava de "idiotas da objetividade".
Nelson acreditava que o teatro brasileiro estava sendo cooptado por comunistas, especialmente nas décadas de 50 e 60. Para ele, os "teatrólogos de esquerda" queriam transformar o palco em panfleto político. Ele dizia:
“O COMUNISMO MATOU O HUMOR. O COMUNISMO ACABOU COM A GARGALHADA.”
Nelson adorava debochar dos intelectuais de esquerda, que ele chamava de "tarados do coletivo". Dizia que esses sujeitos viviam nos salões, com suas teorias marxistas, longe do povo real que suava no subúrbio.
“O COMUNISTA É UM OTÁRIO DE CARTEIRINHA. QUANDO PENSA QUE ESTÁ PROTESTANDO CONTRA O PATRÃO, ESTÁ TRABALHANDO DE GRAÇA PARA O PARTIDO.”
“ESSES RAPAZES DE IPANEMA QUE ACHAM QUE VÃO MUDAR O MUNDO COM UMA CUECA VERMELHA E UMA FRASE DE EFEITO.”
“O COMUNISMO COMEÇA COM A DESCRENÇA NO PAI E TERMINA COM O FUZILAMENTO DA MÃE.”
“ELES QUEREM UMA DITADURA DA VIRTUDE, UMA POLÍCIA DOS BONS SENTIMENTOS.”